Hoje vamos falar sobre fatos, leis e teorias.
Para o senso comum o fato é uma realidade inquestionável e a teoria seria uma especulação que se confirmada vira fato.
Sob o aspecto científico o fato é uma observação empiricamente verificada enquanto que a teoria é a relação observada entre os diversos fatos diferentes.
Isto pode ser ilustrado na experiência de Galileu Galilei na torre de Pisa na Itália. O fato empiricamente observado foi que esferas de massas diferentes lançadas do alto da torre tocavam o solo no mesmo tempo. A relação entre esses fenômenos é que esferas, mesmo de massas diferentes, em queda livre ou com a resistência desprezível do ar, tocam o solo ao mesmo tempo.
Ambos, fatos e teorias, exercem certo papel de um em relação ao outro.
Os fatos exercem um papel de iniciar a teoria, de reformular da teoria, como ocorreu no estudo de Émile Durkheim sobre o suicídio, quando na época se pensava que era um fenômeno influenciado por clima, raça e nacionalidade, e os estudos reformularam indicando a influência da deficiência de integração social. Os fatos também ajudam a redefinir e esclarecer teorias e clarificam conceitos.
Por outro lado a teoria te um papel em relação aos fatos ao orientar, ou seja, ao restringir a observação do fenômeno ao campo de atuação de uma área científica específica. Ela oferece um sistema de conceptualização e de classificação. A teoria resume os fatos por meio de generalizações e oportuniza a predição de fatos. Por final a teoria indica fatos e relações ainda não explicadas satisfatoriamente e abre oportunidade para novas pesquisas.
A lei explicita os elementos comuns e invariáveis dos fenômenos e possui duas importantes funções.
A primeira é resumir grande quantidade de fatos ou fenômenos.
A segunda é prever novos fatos. É o que faz, por exemplo, quando conseguem prever a ocorrência de um eclipse após a aquisição da compreensão dos movimentos dos corpos celestes.
Então temos que fatos, leis e teorias são diferentes estratos de complexidade no qual o primeiro são os mais simples.
Pode-se afirma que a leis descrevem regularidades de coexistência e de sucessão.
O ouro entra em fusão aos 1.064 graus celsius. Isso é uma propriedade que regularmente coexiste neste material. Uma pedra lançada no espelho d’água forma ondas em formato de círculos concêntricos que aumentam o diâmetro a partir do ponto em que a pedra tocou a superfície da água e isto representa uma regularidade de sucessão.
É possível constatar estas regularidades, mas não é simples descobrir o mecanismo responsável por este padrão. À este mecanismo que chamamos de teorias.
Por isso a teoria é mais ampla e abrangente que a lei.
Na execução do trabalho científico será necessário trabalhar com conceitos e estes são modos de expressar fatos/fenômenos por meio da linguagem. Sendo o conceito uma forma de abstração e de generalização é um desafio conceituar algo.
O sistema conceptual é um conjunto de conceitos que envolvem uma determinada área do saber. O Direito possui um sistema conceptual e igualmente a sociologia, antropologia, psicologia e outros.
Além deste também existem os constructos que são criações deliberadas dos cientistas que ao avançar um pouco na escala da abstração desenvolvem expressões e ideias que se ligam aos conceitos. Um exemplo disto é o conceito de dinheiro que se refere à uma fenômenos real, constatável, e que serve para entendermos este fenômeno em qualquer lugar em que estejamos. Por outro lado o constructo motivação é usado para explicar um dos elementos necessários para a aquisição de dinheiro.
Os termos teóricos ascendem ainda mais um degrau da abstração e relacionam conceitos e constructo para a explicação de uma determinada realidade. Mantendo o exemplo, se há dinheiro e a motivação é algo importante para conquista-lo, há um sistema econômico que trabalha com ambas as coisas, o capitalismo é o termo teórico aplicável.
Se a teoria é um instrumento para explicar o presente, prever o futuro e investigar o passado o termo teórico somente tem essa capacidade potencializada por meio do princípio da transposição, ou seja, para que um termo teórico seja um instrumento explicativo, preditivo e de retrodição na dimensão em que ele possa ser explicado em termos pré-teóricos. No exemplo do capitalismo, a expressão nos é compreensível por podermos expressá-la em termos que antecedem a criação desta abstração, ou seja, por meio de fatos que nos são disponíveis mesmo que o capitalismo ainda não existisse como fenômeno econômico.
Aqui fica um alerta: deve-se evitar sempre o erro da REIFICAÇÃO. O que é isso? É acreditar que os conceitos são coisas, algo com identidade. Por exemplo: é como pensar que o dinheiro é um jovem rapaz a esperar que alguém o encontre e o leve para casa. Outro exemplo comum de reificação em nossos dias é a forma como a palavra CIÊNCIA é tratada. Parece que tem há uma pessoa chamada ciência que está a ditar o que é verdade e mentira no mundo ou a dizer o que as pessoas devem ou não devem fazer.
Ciência é um ideal de busca pela verdade e neste interesse os cientistas podem alcançar resultados divergentes.
E aqui se apresenta a importância da comunicação no trabalho científico que traz desafios, tendo em vista que a linguagem utilizada em conversas comuns nem sempre coincide com aquela utilizada pelos especialistas.
Isto pode trazer inconsistências tendo em vista que nem sempre uma palavra é bem traduzida de um idioma para o outro. Palavras utilizadas em uma área de conhecimento possui significado diferente em outra área, como a palavra cultura que possui significados diferentes na biologia e na antropologia. As vezes termos diferentes se referente ao mesmo fenômenos. Um exemplo disto são as frases “receber remuneração” e “perceber remuneração”, que no Direito são sinônimas, apesar de parecer estranho para pessoas de outras áreas do saber.
Por fim, existem conceitos que não de fácil constatação ou aferição. Um exemplo disto é o conceito de STATUS. Para que ele seja melhor constatado ou aferido é necessário que se OPERACIONALIZE este conceito, o decompondo em partes componentes e por este intermédio constatá-lo e mensurá-lo. Assim seria possível decompor o conceito de status em conforto doméstico, meios de comunicação, renda familiar, escolaridade e etc.
Espero que mais esta parte tenha ajudado na compreensão da METODOLOGIA CIENTÍFICA.
Até a próxima.